Acordar com as galinhas é um costume que o sertanejo adquire sem ao menos perceber: seus pais madrugavam, seus avós já o faziam...
Vestidos com chita – e com vestidos de chita – e arrastando o sotaque, buscou-se a apropriação do que é mais próximo à realidade do homem que vive na roça, comprando nas feiras, ansiando a chuva para não ter de se mudar do seu torrão.
Patativa do Assaré representou perfeitamente isso em Triste Partida, ao dar voz às dores das expectativas, frustradas pela estiagem.
Conforme Jessier Quirino, Paisagem do interior é “ciscador, corda e enxada na mão do agricultor”. Quando este não vê motivo para usar cada um de seus instrumentos de trabalho, é que começa a apertar o coração.
E vem estiagem, e vem chuvarada, e estiagem e mais estiagem; assim como se passam as gerações com os pés no mesmo chão.
Aí um transeunte passa por ali, vê um pé de vento levantando poeira e pergunta ao cumpade sentado na preguiçosa como foi que ele conseguiu sobreviver à última seca. E o cabra valente lhe responde à Suassuna: “Não sei; só sei que foi assim!”
Respirar esse ambiente foi o que fizemos nesses dias de apresentações e trabalhos do Literariar e do Projeto De boca em boca a cultura corre solta. A cultura importada foi para o fundo do baú para se desdobrar e desempoeirar um pouco do cordel, dos contadores de causos, das tradições das nossas raízes. Estas que não precisam das tecnologias que escravizam esses tempos para permanecerem vivas e deixarem saudades. É como nos versos de Jorge Vercillo:
"É o segredo do ponto
É o rendado do tempo
É como me foi passado o ensinamento."
João José Ferreira de Oliveira
Professor de Língua Portuguesa